Músicas de São Paulo
“Para mim é um hino de SP”, disse Caetano Veloso sobre sua composição; Sampa.
Ao ler essa colocação de Caê, uma provocação aflora em minha mente: será que para as gerações mais recentes, essa canção é um hino? Será que a famosa esquina (Ipiranga com a Avenida São João) segue icônica?
Quando criança, lembro de andar de mãos dadas com minha mãe pelo centro de São Paulo e toda vez que passamos por essa esquina, eu olhava para cima (para conseguir ver as placas) e pensava: Nossa! Então essa é a esquina que aquele moço canta na música que meu pai e mãe escutam direto?
Trinta e tantos anos depois, sinto a mesma coisa ao passar por esse lugar. Na verdade, hoje com uma provocação mais profunda: O que será que minha mãe, uma mulher negra e nordestina, sentiu ao passar por esse lugar pela primeira vez nos anos 70?
Tenho certeza que ela sentiu muito orgulho dela mesmo por estar “vencendo na vida” na maior metrópole do país. Orgulho de ir em busca do seu sonho, mesmo indo contra a vontade do meu avô.
Imaginem quantas histórias esse ponto não carrega, quantas pessoas passaram e passam diariamente por lá e quantos sonhos transitam por baixo das duas placas que se encontram formando um ângulo de 90 graus.
É importante lembrar que uma outra música que retrata o cenário paulistano foi inspiração para a composição de Sampa, esta canção é Ronda, de Paulo Vanzolini.
Outro ponto que serviu como inspiração na hora de compor foi o fato de Caetano morar na época próximo ao famoso cruzamento. Ironicamente, a letra foi escrita quando o cantor estava no Rio de Janeiro.
Curiosamente a grandeza de São Paulo retratada na canção, não foi sentida pelo compositor nos anos 60: “Cheguei com a [Maria] Bethânia, e a cidade nos pareceu feia, não parecia grande… nos pareceu provinciana, com aqueles cartazes de cinema de mau gosto. Tinha algo de cidade do interior”.
Se existe uma coisa que esta cidade tem é o poder de mudança, tanto a física como a forma com que a enxergamos com o tempo. Tanto que no disco Muito de 1978, Caetano deixa claro o seu “novo olhar” com relação a São Paulo.
Acredito que muitas pessoas não sabem, mas a música foi feita pelo Gilberto Gil, ou seja, letra de Caetano Veloso e música de Gilberto Gil.
“ É uma canção que eu fiz sobre um poema extraordinário de Caetano, aquelas coisas extraordinárias que ele escreve. A música saiu bonita também.” comenta Gilberto Gil no disco Unplugged, 1994.
Sim, Gil!
A música é linda!
A letra é linda!
Eu poderia destrinchar a letra inteira neste texto/ensaio/pensamento, mas acredito que arte está aí para cada pessoa sentir e descobrir o que faz sentido naquele momento.
Somos momentos e somos eternos, como a arte e como Sampa.
Viva São Paulo.
Ouça:
Caetano Veloso
https://www.youtube.com/watch?v=4UeFwOEoobg
Ouça as versões icônicas:
Gilberto Gil
https://www.youtube.com/watch?v=qDb-Xz7fhyQ
João Gilberto
https://www.youtube.com/watch?v=Uq8cJ6PERzQ
Toque a sua Sampa
C7M Bm7(11) E7(b9) Am7M Am7 Gm7 Gb7(#11)
Alguma coisa acontece no meu coração
F A7 Dm7
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
G7 G#° Am7
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
D7(9)
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Dm7 G7 G7(b13)
Da deselegância discreta de tuas meninas
C7M C7(9)
Ainda não havia para mim Rita Lee
F7M F#°
A tua mais completa tradução
C/G A7 Dm7 G7 E7 A7
Alguma coisa acontece no meu coração
D7(9) Abm6
Que só quando cruza a Ipiranga
G7 C6(9) G7(13) G7(b13)
E a avenida São João
C7M Bm7(11)
Quando eu te encarei frente a frente
E7(b9) Am7M Am7 Gm7 Gb7(#11)
Não vi o meu rosto
F7 A7 Dm7
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gosto
G7 G#° Am7
É que Narciso acha feio o que não é espelho
D7(9)
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Dm7(9) G7(13) G7(b13)
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
Gm7 C7(9)
E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
F7M F#°
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
C/G A7 Dm7 G7 E7 A7
Aprende depressa a chamar-te de realidade
D7(9) Abm6
Porque és o avesso do avesso
G7 C6(9) G7(13) G7(b13)
Do avesso do avesso
C7M Bm7(11)
Do povo oprimido nas filas
E7(b9) Am7M Am7 Gm7 Gb7(#11)
Nas vilas, favelas
F A7 Dm7
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
G7 G#° Am7
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
D7(9)
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas
Dm7(9) G7(13) G7(b13)
Teus deuses da chuva
Gm7 C7(9) F7M
Pan-américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
F#°
Mais possível novo quilombo de Zumbi
C/G A7 Dm7 G7 E7 A7
E os novos baianos passeiam na tua garoa
D7(9) Abm6 G7 C6(9)
E os novos baianos te podem curtir numa boa